No Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, que ocorreu no sábado (19/10), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) chama a atenção para o diagnóstico e tratamento precoce desta infecção sexualmente transmissível (IST).
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios. A IST pode ser transmitida por relação sexual sem preservativo ou para o bebê durante a gestação ou parto. Na gestação, essa infecção pode evoluir para aborto ou graves sequelas ao recém-nascido.
No período de 2021 a 2023, em Minas Gerais, foram registrados 62.688 casos de sífilis adquirida, 19.176 casos de sífilis em gestante e 6.620 casos de sífilis congênita, de acordo com dados Sistema de Informações de Agravos de Notificação.
O número de casos de sífilis adquirida passou de 16.263, em 2021, para 24.999, em 2023; enquanto o número em gestantes e de sífilis congênita passou de 5.654 para 7.084, e de 2.133 para 2.251, respectivamente.
Em 2024, os dados parciais, até (11/10), indicam 15.888 casos de sífilis adquirida, 4.076 em gestantes e 4.076 de sífilis congênita no estado. Atenta ao aumento observado entre 2021 e 2023, a SES-MG buscou ampliar e manter a realização de estratégias para o controle da infecção, em consonância com as recomendações do Ministério da Saúde, como a distribuição de insumos de diagnóstico e tratamento (testes rápidos, penicilina benzatina e cristalina), e aquisição e distribuição de insumos de prevenção.
A diretora de Vigilância de Condições Crônicas da secretaria, Ana Paula Mendes Carvalho, destaca a importância da testagem da sífilis junto à população, tendo em vista que se trata de uma infecção de difícil diagnóstico clínico, levando muitas pessoas a viverem com ela, sem saber que estão infectadas.
“A testagem para o diagnóstico da sífilis pode ser realizada por testes rápidos, disponíveis em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS). De 2021 a 2023, foram disponibilizadas mais de 2 milhões de unidades desses testes. E, caso o diagnóstico seja positivo, o tratamento também é realizado em todas as unidades básicas de saúde”, explica Ana Paula.
Ela reforça que o teste rápido é crucial para detectar a infecção precocemente, mesmo em fases sem sintomas evidentes. “A realização do teste permite que o tratamento comece de imediato, evitando que a doença progrida para estágios mais graves, que podem causar complicações sérias, como problemas neurológicos, cardiovasculares e até a morte”, alerta a diretora.
Ana Paula Carvalho adverte também sobre a necessidade de todas as gestantes realizarem o teste de sífilis durante o pré-natal. “A sífilis não tratada na gestante pode ser transmitida ao feto, causando sífilis congênita, que pode resultar em aborto espontâneo, parto prematuro, má-formação, ou até mesmo a morte do bebê. Detectar e tratar a infecção precocemente previne essas complicações graves e garante uma gravidez mais segura”.
A SES-MG realiza a distribuição dos testes rápidos para diagnóstico de sífilis, HIV/Aids e hepatites virais para todos os municípios mineiros. De 2021 a 2023 foram distribuídos 2.723.570 testes rápidos para diagnóstico de sífilis, sendo que o quantitativo anual foi duplicado em dois anos. Em 2021, foram distribuídos 519.450 testes; em 2022, foram 1.023.700; e, em 2023, o número chegou a 1.180.420.
Prevenção, diagnóstico e tratamento
A principal forma de proteção contra a sífilis é o uso de preservativos internos (vaginais) ou externos (penianos) em todas as relações sexuais. Além de prevenir a sífilis, os preservativos também protegem contra outras ISTs. Mesmo em relacionamentos estáveis, é essencial manter o uso de preservativos caso os parceiros não façam testagem regular para IST.
Sempre que houver suspeita de exposição ao risco, como após relações sexuais sem uso de preservativo, ou se apresentar sintomas como feridas, manchas no corpo, ou ínguas, é indicada a realização do teste de sífilis. O teste rápido oferece o resultado em cerca de 30 minutos.
A sífilis é uma infecção que pode ser completamente curada se tratada adequadamente. O tratamento mais comum envolve a administração de penicilina, um antibiótico seguro e eficaz, que está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento precoce é fundamental para evitar a progressão da doença e prevenir complicações graves.
“O mais comum é o aparecimento de uma ferida que começa no local onde houve a infecção. A ferida se cura sozinha, não causa dor à pessoa infectada, então algumas vezes a pessoa nem chega a ver a ferida e, se vê, pode não procurar um médico”, explica a médica infectologista do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais (Cievs Minas), Daniela Caldas Teixeira.
“Na segunda fase, a pessoa fica bem durante muito tempo, podendo ter no máximo manchas na pele que parecem alergias e que, geralmente, sumirão também”, complementa Teixeira, que explica ainda como deve ser feita a testagem em gestantes.
“São pelo menos três testagens, uma no primeiro trimestre ou a partir da descoberta da gravidez, uma no terceiro trimestre e uma antes ou imediatamente depois do parto. Identificada a infecção, a mãe será tratada para prevenir a transmissão para a criança. O parceiro, marido ou namorado também precisa testar para que a mulher não seja infectada novamente e, assim, seja interrompido esse ciclo de transmissão”, finaliza Daniela.
Atuação da SES-MG
A SES-MG realiza continuamente a compra e a distribuição de preservativos externos (penianos) e gel lubrificante, além de preservativos internos (vaginais) e testes rápidos para triagem da sífilis. De 2021 a 2023, foram adquiridos cerca de 34 milhões de unidades de preservativos externos (penianos), de forma complementar ao quantitativo de aproximadamente 50 milhões recebido do Ministério da Saúde para as ações de prevenção.
A secretaria também adquiriu cerca de 2,5 milhões de unidades de gel lubrificante, outro insumo utilizado para a prevenção da transmissão sexual das IST. O Governo de Minas também repassou, em 2021, incentivo financeiro de R$ 47 milhões aos municípios mineiros para o fortalecimento das ações de enfrentamento da sífilis. A gestão municipal teve dois anos para a utilização do recurso.
Além disso, são repassados, pelo governo federal, R$ 18 milhões anuais para o custeio de ações de vigilância, prevenção e controle das IST/Aids e hepatites virais no estado de Minas Gerais. Minas possui 75 Serviços de Atendimento Especializado (SAE), Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Unidades Dispensadora de Medicamento (UDM), em 65 municípios, que realizam assistência especializada às infecções sexualmente transmissíveis, com consultas multiprofissionais.
A SES-MG também atua na qualificação do banco de dados de sífilis e na implementação dos Comitês de Investigação para Prevenção da Transmissão Vertical (CITV) nas 28 Unidades Regionais de Saúde (URS) e municípios que apresentam taxas elevadas de sífilis congênita, a fim de identificar as fragilidades que ocasionam a transmissão vertical da sífilis e propor medidas resolutivas na prevenção, diagnóstico, assistência, tratamento e vigilância da doença.
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