O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, admitiu na segunda-feira, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que membros do seu partido cometeram crimes, não apenas erros, durante o período que o PT esteve no governo, e devem pagar por isso.
Haddad foi mais uma vez cobrado a reconhecer problemas do PT durante seu tempo de governo e voltou a criticar partes da condução econômica do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, além do fato do partido não ter sido mais duro na vigilância contra a corrupção em empresas estatais.
Ao ser questionado se havia crime ou apenas erros, Haddad afirmou que em sua visão houve sim crimes de caixa 2 e enriquecimento ilícito, mesmo ressalvando que não houve ainda julgamentos em última instância e, por isso, considera que não se pode declarar culpados.
"Mas certamente teve pessoas que usaram o financiamento de caixa 2, financiamento ilegal de campanha, para enriquecer. São dois crimes, o financiamento de caixa 2 e o enriquecimento, que é ainda mais grave. Acredito que teve gente que se valeu disso para enriquecer e sou a favor de punição exemplar para essas pessoas", afirmou.
A falta de um "mea culpa" é uma das críticas mais constantes feitas ao PT por adversários e até mesmo por outros políticos de centro-esquerda, como o senador eleito Cid Gomes, irmão do ex-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes. Nas últimas semanas Haddad tem repetido o que considera erros no partido, mas vinha se concentrando em questões como a falta de controles e os erros econômicos.
O petista voltou, no entanto, a defender o legado de crescimento econômico e justiça social dos governos petistas, e disse que não se deve jogar fora o que houve de bom em nome dos erros.
"Eu represento um projeto que precisa ser resgatado. Houve problemas sim, já admiti em várias entrevistas, não tenho dificuldade com isso. Mas não podemos jogar o bebê fora com a água do banho", afirmou.
Durante o programa, Haddad negou que a possibilidade de uma frente contra seu adversário no segundo turno da disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL), seja um fracasso. O candidato ressaltou o apoio declarado por Marina Silva (Rede) nesta segunda, através de uma nota, e ressaltou que ainda espera um sinal de Ciro Gomes.
Haddad lembrou que desde o final de 2017 conversava com Ciro e defendia uma frente, com a aproximação de PT e PDT, e revelou que intermediou um encontro entre o presidente do PDT, Carlos Lupi, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de petista ser preso em abril.
"Eu sempre agi com muito desprendimento porque acho que o que está em jogo no Brasil é tão sério que, na minha opinião, projetos pessoais jamais deveriam se impor sobre qualquer interesse que não fosse o interesse nacional", disse o petista. "Ciro sabe de tudo isso, ele conhece essa história toda. Então eu esperava e espero que o Ciro dê um alô, de onde estiver, porque é muito importante para o Brasil que ele se manifeste publicamente. Aguardo ansiosamente o seu aceno porque precisamos ganhar a eleição e governar juntos o Brasil".
ESTATAIS
Haddad foi questionado sobre sua promessa mais recente, de reduzir o preço do gás de cozinha do valor atual, em torno de 80 reais, para 49 reais, e defendeu a proposta afirmando que é possível fazê-la reduzindo o subsídio dado hoje ao diesel devido à greve dos caminhoneiros e passando parte para o gás.
Segundo o petista, com a declaração do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a tabela de frete criada pelo atual governo é constitucional, será possível negociar com o setor um valor de frete que cubra os custos mesmo reduzindo o subsídio.
"O subsídio do diesel é quatro vezes maior do que seria necessário para o gás. É possível diminuir e fazer o do gás. Tem que equilibrar. É possível e não representa nada para a Petrobras, não vai custar um centavo a mais", defendeu.
O petista ainda foi questionado se privatizaria alguma estatal, e foi lembrado que os governos petistas criaram cerca de 50 empresas públicas. Haddad afirmou que não tem em seu radar a venda de nenhuma empresa, mas que poderia fechar algumas e fundir outras.
"Tem estatal que só tem nome, são repartições públicas. Sou a favor de fundir algumas, eliminando outras, fazer o enxugamento", disse, questionando quem iria comprar algumas das estatais existentes. "Quem iria comprar a estatal do trem-bala?", lembrou, dizendo que nesse caso seria necessário extinguir ou incorporar em outra.
(Por Lisandra Paraguassu)