Mais de 586 mil quilômetros quadrados de extensão, 21 milhões de habitantes, 853 municípios. Os números expressivos de Minas representam a dimensão do desafio: realizar a maior operação de vacinação da história do estado e fazer a vacina contra a covid chegar o mais rápido possível no braço das pessoas. Uma missão que foi possível graças à atuação de milhares de mulheres, que tiveram papel fundamental na rota da vacina – desde a recepção, planejamento, transporte até a aplicação - levando mais de 40 milhões de doses de esperança a todos os mineiros.
Ser parabenizada neste dia oito de março, Dia Internacional da Mulher, não é novidade para Maria de Fátima Araújo, a Fatinha, como é conhecida. Afinal, oito de março também é seu aniversário – hoje ela completa 65 anos de idade. Mas o seu trabalho, principalmente nesse último ano, merece destaque especial.
Coordenadora da Central Estadual de Rede de Frio da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), local onde as vacinas do calendário nacional de imunização são armazenadas – incluindo as contra a covid-19 –, Fatinha foi uma das responsáveis por receber cada uma das doses enviadas pelo Ministério da Saúde a Minas até agora.
Pontapé
Fatinha diz que é na Rede de Frio o pontapé inicial da longa jornada da rota da vacina em Minas, desde a sua chegada na capital até a aplicação no braço dos milhares de mineiros, por todos os cantos do estado. Segundo ela, este é o trabalho mais marcante dos 15 anos em que atua no setor, sendo três deles na coordenação.
“As vacinas passam pelas mãos de toda nossa equipe. Todos são treinados e capacitados para o armazenamento, transporte e distribuição com agilidade e segurança. Todo o transporte das vacinas que saem da Rede de Frio até as regionais de saúde é monitorado com termômetro para o controle da temperatura e demais cuidados para evitarmos perdas. É um processo muito rigoroso”, explica Fatinha.
A coordenadora ainda destaca a mobilização e empenho de sua equipe e de toda a operação montada pelo Governo de Minas para executar o plano de vacinação no estado. “Tivemos todo o apoio do governo, das Forças de Segurança, com a Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros. Foi uma ‘tropa de choque’ mesmo. A vacina chegava aqui à noite, e cinco horas da manhã ela já estava saindo nos aviões, helicópteros, rumo às regionais. A gente conseguia entregar em um dia só”, lembra, orgulhosa.
Fatinha é um exemplo da força e do empenho das mulheres que atuaram no caminho da vacina. Para ela, a emoção de fazer parte de um momento tão importante na história é grande.
“Tínhamos uma ansiedade muito grande de começar a campanha. No início eram poucas doses, todo mundo querendo a vacina. Agora, felizmente, temos um quantitativo suficiente para vacinar todos. É um sentimento indescritível de missão cumprida, de saber que nosso trabalho contribui para que a vacina chegue com qualidade e rapidez nas salas de vacina e que realmente elas salvam vidas”, finaliza a coordenadora.
Rota da esperança
Na Rede de Frios, várias mulheres também cumpriram papel importante neste processo da rota da vacina por Minas Gerais, trabalhando em várias funções.
A chegada dos imunizantes, há pouco mais de um ano, representou oportunidade de emprego para Valéria Aparecida Souza, contratada como operadora de atividade logística para atuar na equipe da Fatinha.
“A gente recebe, confere, armazena, separa, coloca nas caixas de isopor na temperatura certa e despacha. E temos que fazer isso no menor tempo possível”, explica Valéria.
“Ficamos emocionados quando chegaram as primeiras cargas e pensávamos: nossa, isso vai acabar? Foi uma esperança, um alívio. Tentamos desempenhar o melhor para não perder nenhuma vacina e para que todo mundo pudesse receber com agilidade”, afirma.
Por terra e pelo ar
Da Rede de Frios, percorrer os milhares de quilômetros quadrados de Minas para levar a vacina ao braço dos mineiros de Norte a Sul, de Leste a Oeste, exigiu muito planejamento e trabalho. E de missões importantes e desafiadoras a major Karla Lessa, comandante de helicóptero da Esquadrilha Arcanjo do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), entende bem.
Com mais de 20 anos na corporação, major Karla é piloto de helicóptero há 11 anos, se tornando a primeira comandante de helicóptero de bombeiros militar do Brasil.
Ela é reconhecida pela atuação em diversas missões de resgates e salvamento, como na tragédia de Brumadinho e em ocorrências envolvendo acidentes graves e em locais de difícil acesso, por exemplo. A major também trabalha como assessora militar na SES-MG, no planejamento e logística de ações integradas entre a secretaria e os Bombeiros.
“Desenvolvemos esta ação junto com a Secretaria de Saúde, em um trabalho conjunto envolvendo outros órgãos de Segurança Pública, em que ações distintas precisavam ser desenvolvidas em sinergia para a vacina chegar em todos os cantos. Somos um estado muito grande, com uma logística viária muito específica e era necessária uma agilidade. Atuei na distribuição das vacinas, propriamente dita, transportando-as nas aeronaves, e na gestão, através deste planejamento”, afirma a comandante.
Mesmo com várias missões históricas de salvamento em seu currículo, major Karla disse que a distribuição das vacinas teve um sentimento especial.
“Eu era uma agente de salvamento, de assistência à saúde, mas, ao mesmo tempo, também atuava como uma cidadã que estava na expectativa de chegarmos a uma solução para a pandemia. Nas primeiras distribuições, quando chegávamos a determinados municípios, o ambiente era de festa, as pessoas iam recepcionar a chegada da vacina. Havia um clima muito positivo em relação à esta missão que era efetuada, de esperança, de alívio”, revela a comandante.
O trabalho no transporte por terra também foi duro. Marília Dias Duarte que o diga. Em janeiro deste ano, por exemplo, ela voltou de suas férias antecipadamente para ajudar no processo de imunização em Sete Lagoas, região metropolitana da capital.
Funcionária da Superintendência Regional de Saúde no município, Marília tem autorização para dirigir os veículos oficiais e aceitou a missão de contribuir no transporte das vacinas da Rede de Frios, em Belo Horizonte, até a sua cidade.
“Aquela era uma carga muito valiosa para todo mundo. Eu olhava e conseguia ver o valor que era gasto nela e o quanto ela significava. E, infelizmente, ainda hoje a gente vê pessoas que não querem se vacinar, o que é muito triste. Adoro ajudar, participar. Então, trabalhei com muita vontade. Foi ótimo fazer parte deste trabalho. Sempre perguntava: não tem mais nada para buscar?”, disse Marília.
As vacinas levadas por ela eram distribuídas tanto em Sete Lagoas quanto em outras cidades da região.
Aplicação na primeira criança
Aos 27 anos e mãe de uma criança de um ano e sete meses, Rafaelle Andyara Cunha participou de um momento histórico em Minas Gerais. A técnica de enfermagem foi a responsável pela aplicação da primeira vacina pediátrica no estado. Miguel Bittencourt, de 10 anos, autista, recebeu a primeira dose do imunizante contra a covid-19 em 14 de janeiro deste ano, em Vespasiano, na região metropolitana da capital.
“Fiquei muito emocionada em ter sido escolhida para vacinar a primeira criança em Minas Gerais. Eu pude vacinar o Miguel, que tem o mesmo nome do meu filho. É uma criança especial. Não vou esquecer nunca”, contou Rafaelle.
Vacinas salvam vidas
Para que toda esta rota da vacina pudesse ser executada com êxito foi preciso muito planejamento. E, mais uma vez, uma mulher foi essencial nesta campanha.
Coordenadora do Programa de Imunização da SES-MG, Josiane Gusmão destacou a integração dos órgãos estaduais para garantir que mais de 40 milhões de doses fossem aplicadas no estado, o colocando como um dos que mais imunizaram a sua população. O principal desafio, segundo ela, foi garantir a distribuição de forma ágil, segura e equânime para todos os municípios mineiros.
A coordenadora também falou sobre a emoção de participar deste momento histórico. E, neste Dia Internacional da Mulher, Josiane celebra, também, a esperança por dias melhores.
“Vacinas salvam vidas. Então, cada dose representa uma esperança de dias melhores. Ela é a forma de enxergarmos o final da pandemia. O que nos motivou a passar por todas estas dificuldades é saber que a gente conseguiu, com a vacina, evitar muitos óbitos. E isso nos deixa com o sentimento de dever cumprido. É uma grande satisfação representar tantas mulheres neste processo e fazer a diferença”, concluiu.
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