Duas análises de dados publicadas nesta segunda-feira por pesquisadores do Reino Unido mostram que as vacinas usadas no país —AstraZeneca e Pfizer, ambas aplicadas também no Brasil— são eficientes contra a variante delta (identificada primeiramente na Índia). Dependendo do aspecto analisado, a proteção é equivalente ou menor que obtida contra a variante alfa (registrada primeiro na Inglaterra).
Cerca de 60% mais transmissível que a alfa, a variante delta têm preocupado o governo britânico porque se tornou dominante no país —aparece em 96 de cada 100 sequenciamentos genéticos. Como ainda faltam pesquisas sobre seu impacto, a Inglaterra decidiu adiar por quatro semanas o fim das restrições contra Covid-19, para não correr o risco de um novo colapso hospitalar.
Dados do governo escocês relatados na revista médica The Lancet, ainda sem revisão por pares, indicaram que o risco de hospitalização é o dobro entre os infectados com a variante delta em comparação com quem se contagiou com a alfa. A mutação do coronavírus foi encontrada principalmente em grupos mais jovens e mais ricos do país.
Foram analisados dados de 5,4 milhões de habitantes da Escócia, de 1º de abril a 6 de junho, período em que houve 19.543 casos de Covid-19, com 377 internações hospitalares. Desse total, 7.723 (39,5%) dos infectados e 134 (35,5%) dos internados foram diagnosticados com a variante delta, que desde 19 de maio é dominante também na Escócia. Segundo os pesquisadores, o risco de hospitalização é maior para quem tem doenças subjacentes.
Para avaliar a eficiência da vacina, os pesquisadores analisaram todos os que fizeram um teste PCR no intervalo do estudo e compararam a porcentagem de resultados positivos entre os que tinham e não tinham sido imunizados (os dados foram ajustados para características demográficas e temporais). Também acompanharam a admissão hospitalar de 14 dias a partir do teste positivo até os que tiveram resultado positivo até dois dias depois de internados.
O número de internações, segundo os pesquisadores, foi insuficiente para comparar as vacinas a esse respeito. Considerando todas as pessoas analisadas, a eficácia de duas doses do imunizante da Pfizer foi de 92% para a variante alfa e de 79% para a variante delta. A vacina da AstraZeneca mostrou eficácia de 73% para a alfa e 60% para a delta. No geral, um forte efeito da vacina só se manifestou a partir de 28 dias após a primeira dose.
O relatório alerta, porém, que o ajuste temporal pode não ter sido suficiente para evitar distorções nos resultados, porque no período houve crescimento forte da presença da variante delta e diferenças no progresso da vacinação. No período de estudo, a porcentagem de habitantes com uma dose de vacina ficou entre 44,7% e 59,4%, e a com duas doses, entre 7,6% e 39,4%. Para os maiores de 65 anos, as taxas foram bem maiores: mais de 91% haviam recebido ao menos uma injeção e de 15,9% (no começo do estudo) a 88,8% (no final) foram completamente imunizados.
“Além disso, nenhum teste de significância formal para comparar as vacinas foi feito”, dizem os pesquisadores.
Outro ponto levantado pelo professor de epidemiologia da Universidade de Edimburgo, Rowland Kao, é que o trabalho não aborda a demanda nas UTIs nem os óbitos pela variante delta, já que ainda não há dados suficientes sobre isso. “Esses serão determinantes importantes para quaisquer decisões futuras sobre flexibilização adicional ou, se for o caso, reintrodução de restrições”, afirma.
Já segundo a Saúde Pública da Inglaterra (PHE, na sigla em inglês), também em relatório sem revisão por pares, a vacinação completa pode evitar, na mesma proporção, as hospitalizações de pessoas infectadas pela variante delta e alfa. Com base em 14.019 casos sintomáticos com a variante delta, 166 dos quais foram hospitalizados, a entidade calcula que a vacina da Pfizer teve eficácia de 94% contra a internação após uma dose e 96% após duas doses, após ajuste para fatores como idade, doenças pré-existentes e etnia.
Para a vacina da AstraZeneca, os resultados foram de 71% com uma dose e 92% com as duas. São números semelhantes aos verificados para a proteção contra hospitalização de quem contraiu a variante alfa: 83% e 95% com a vacina da Pfizer e 76% e 86% com a da AstraZeneca, para uma ou duas doses, respectivamente.
Segundo o presidente do Comitê de Medicina de Saúde Pública da Associação de Medicina Britânica, Peter English, a alta eficácia já era esperada contra doenças graves, mas o bom resultado também no caso da variante delta “é reconfortante”. Segundo ele, se estudos posteriores confirmarem essa proteção, o relaxamento de restrições poderá prosseguir daqui a quatro semanas, com a maioria da população já imunizada.
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