Se a Itália teve o pintor Caravaggio e o escultor Bernini como principais expoentes do Barroco, Minas Gerais teve Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, cujas obras também são apreciadas no mundo inteiro. Além de ter deixado um imenso legado histórico-cultural, em várias cidades mineiras, o artista imprimiu sua marca pessoal ao estilo que surgiu na Europa, no século XVII, e acabou por criar o Barroco Mineiro, reconhecido por muitos como a primeira expressão da cultura brasileira a se firmar como tal. Muitos vieram depois dele e se inspiraram em sua arte.
O dia 18 de novembro é o Dia do Barroco Mineiro, criado por meio da Lei 20.470, de 2012, aprovada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A religiosidade trazida pelos portugueses, as igrejas ricamente adornadas, a arquitetura e as esculturas de Aleijadinho se misturam com o Ciclo do Ouro e com a própria história de Minas Gerais. Desde a publicação da lei, todos os anos, nesta época, o Legislativo promove algum tipo de atividade para destacar a importância dessa manifestação artística.
Este ano, o Dia do Barroco Mineiro integra a programação dos 300 anos de Minas Gerais, com parte da agenda sendo realizada de modo remoto, em virtude das recomendações sanitárias, para ajudar a controlar a pandemia de Covid-19. Valorizar a história e o patrimônio cultural de Minas, incluindo as obras no estilo barroco, é um dos objetivos das comemorações.
Em Minas, estilo ganhou contornos ainda mais expressivos e dramáticos.
Exuberância de detalhes, rostos ainda mais expressivos, formas em movimento sinuosas e luz aplicada de modo tangente são algumas das características atribuídas por estudiosos da arte ao Barroco Mineiro, cujo destaque maior se deu na escultura, entalhe em madeira, pintura e arquitetura. Diz-se que o Barroco Mineiro também apresenta influências da arte bizantina e gótica.
O conjunto dos 12 profetas esculpidos por Aleijadinho em pedra sabão, que fica na cidade de Congonhas (Região Central), considerado patrimônio mundial pela Unesco, é apenas um exemplo de como essa arte produzida em Minas alcançou projeção mundial.
Em Ouro Preto (Região Central), entre tantas outras obras, Aleijadinho fez a planta da Igreja São Francisco de Assis, dois púlpitos com várias figuras de santos, a pia batismal, uma imagem da Santíssima Trindade e dois anjos que adornam o altar principal. Por esses e outros motivos, a cidade também se tornou patrimônio artístico e arquitetônico mundial.
Os entalhes de madeira no estilo barroco, os projetos de altares suntuosos e esculturas em pedra sabão, feitos por Aleijadinho ou por outros artistas que vieram depois, também podem ser vistos em cidades como Diamantina, São João Del Rei, Serro, Mariana e Tiradentes, todas na Região Central.
Livro
Uma das ações da Assembleia Legislativa, neste mês de novembro, é a produção da segunda edição do livro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho: Artista Síntese, da historiadora Cristina Ávila e do fotógrafo Márcio Carvalho, sobre a obra do escultor e arquiteto que se tornou referência, não só pela genialidade da obra que deixou, mas pela demonstração de força e perseverança, diante de suas fragilidades físicas.
Mais de 200 anos depois da morte de Aleijadinho, permanecem vibrantes os projetos arquitetônicos, estatuárias, relevos e talhas, desse “artista mineiro de corpo e alma”, conforme destaca o presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus (PV), que assina a apresentação do livro.
Apesar do reconhecimento mundial, a vida de Aleijadinho, que já foi objeto de várias biografias, permanece envolta em certo mistério. A própria data de nascimento do escultor, provavelmente no ano de 1730, é dada como incerta pelos historiadores. Assim como não se sabe, com exatidão, até hoje, qual foi a doença que lhe danificou os membros e deformou a face.
De todo modo, é certo que Antônio Francisco de Lisboa, nascido na então Vila Rica (atual Ouro Preto), filho do português Manuel Francisco Lisboa, tornou-se mito e ajudou a projetar a arte e a cultura mineira para o mundo.
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