Andreia Donadon Leal
2019 foi um ano intenso, de amadurecimento, porções de felicidade, sofrimentos e aprendizados. Aprendi mais valores do que julguei ter de sobra em meu depósito de virtudes. Nós vamos aprendendo, com o tempo, que a aprendizagem é uma estrada interminável. Aprendi, na marra, que ninguém tem razão máxima das coisas, que ninguém está livre de erros ou equívocos. Aprendi que é desumano tentar agradar a todos. Aprendi que o acometimento de uma grave doença pode desestabilizar um punhado de gente. Ninguém é de ferro ou possui aparelho à prova de sofrimento.
Somos carne, osso, emoção, sentimentos e uma porção generosa de equívocos. Aprendi, agarrando o aprendizado no surto do momento, que a calma é amiga inconteste do coração e da paz. Aprendi, com as desavenças de cada dia, que ninguém é blindado ou à prova de tiros de ataques pessoais, da vontade de revanche por mágoas antigas, presentes ou inexplicáveis. Aprendi que picardias são lançadas ao vento.
A caminhada foi longa, exaustiva, o ano contabilizou um punhado de coisas boas e ruins. Penso na previsão do tempo. Chuva. Olho para o céu. Uma camada generosa de neblina cobre as encostas. Para além de cada morro encoberto de neblina há, creio eu, um sol esplendoroso cochilando. O astro precisa folgar; refrescar-se na tumidez das pedras que formam poças ou se esconder nas nuvens.
Somos sol, com brilhos e sombras diversificadas. O equilíbrio do astro está em ser mais, em ser menos, nas diversidades das estações. As estradas requerem bom senso, paciência e amor à vida. Trânsito pesado de fim de ano. Pessoas apressadas andam de um lado para o outro. Carros enfileirados. Tudo é pressa quando deveria ser calmaria.
O calendário vai girar, independentemente da nossa velocidade; no tempo cronometrado, preciso, desestressado e articulado. Foi 'loucura' sobreviver 2019, diante de tanta turbulência, desentendimento, coisas ruins. Que os desentendimentos sigam o curso das águas do céu. Aprendi que devo estocar compreensões, afetos, sorrisos, afagos, olhares de cumplicidade. Devo lançar, a la basura, minhas antipatias, pré-julgamentos e julgamentos.
Chuva encorpada. Tenho medo de raios e trovões, mas aprendi a controlar o pânico respirando fundo. Aprendi: segurar as lágrimas no momento de consolar o outro; esquecer meus lamentos, minhas necessidades não prioritárias; a ser menos egoísta, a mudar de rotina, de opinião; a aceitar meus erros, a pedir desculpas, a perdoar o próximo, a parar de reclamar, a não querer que todos pensem com minha cabeça.
Aprendi um punhado de cousa, aprendendo que o que aprendi é insuficiente. Há muito a fazer, mesmo na diminuta duração de uma vida. Aprendi que ninguém é Deus, nem tem o cronômetro certeiro ou controle do tempo de um corpo. Aprendi que médico não é Deus, não cura definitivamente as patologias, não é milagreiro; cura é outro papo, é resultado de tratamento clínico em parceria com o paciente e sua família.
Aprendi que ciúme é tenebroso. Aprendi que conviver com delatores é assédio. Aprendi que as letras dos livros voltaram a se embaçar sem meus óculos de grau. Aprendi a conviver com insônias e sobrepeso. Aprendi que não sou dona da razão. Aprendi que a morte está em toda esquina, mas que a vida antecede cada travessa. Aprendi que fama é passageira; que cargos políticos são efêmeros; que perseguições são inseguranças e estultices de maus gestores.
Aprendi que não somos nem perfeitos, nem a última joia do tesouro da família real. Realeza são nossas realidades. Aprendi a tornar real meu sonho de ser feliz, sabendo que amanhã posso voltar a ser triste. Aprendi que somos bipolares, que viver é bonito, mas é difícil. Aprendi que perdoar é crer em si e no outro. Aprendi que há espaço no céu para infinitas estrelas. Aprendi que coisa rara e preciosa de 2019 é receber o sorriso, quase imperceptível, de quem deu vida à minha existência. Que em 2020 possamos aprender que, além da encosta encoberta, haverá semente para germinar, aguardando o pouso das chuvas.
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